terça-feira, 24 de janeiro de 2012

22 de Junho de 1986 - Do Céu Caiu uma Estrela

Antes de 22 de Junho de 1986

Tinha nove anos, estávamos em 1986, e aquele Mundial é o primeiro de que me recordo.
Podia ter sido por Portugal participar (Os “Infantes” com aquelas
camisolas vermelhas da Adidas com umas riscas fininhas na diagonal), ou então por achar piada à mascote “Pique Gol” (um pimento? com um sombrero era uma grande ideia!), talvez fosse o hino do Mundial (quem não se lembra daquele mágico: “México 86, México 86, el mundo unido por un balón!!!”) a chamar-me a atenção.
Podia ter sido pelo “folclore” das bandeiras dos Países que desenhei num caderno que ainda guardo, ou então pela “ola” que este Mundial nos deu a conhecer.
E as “caricas” da Coca-Cola? Tirava-se aquela parte branca lá de dentro, e lá estavam impressas as caras dos nossos heróis, com os seus bigodes, para coleccionar.
Eu virava as caras para cima, voltava a por dentro da “carica” e estava feito um jogador!!!
Depois era arranjar qualquer coisa esférica à medida (aquelas missangas plásticas de colares dos 80’s eram o ideal), improvisar umas balizas pequeninas, 11 “caricas” das garrafas pequenas para um lado e outras 11 “caricas” das garrafas grandes (aquelas de enroscar) para o outro, e já estava. Era Portugal contra Portugal com algumas caras a jogarem nas duas equipas!!!
Horas e horas de diversão assegurada. Por muito Pro Evolution Soccer que façam, nenhum irá bater aquela maravilha!!!!
Tudo isto chegava, e sobrava, para prender o imaginário de uma criança. Mas não chegaria para o tornar adepto “apaixonado” de futebol, quando muito adepto da festa que são os Mundiais e Europeus, um entre tantos.

A “paixão”, essa, nasceria no dia 22 de Junho de 1986.


Dia 22 de Junho de 1986



(O arrepiante e mítico relatato de Victor Hugo Morales!)


Depois de 22 de Junho de 1986

Gosto de imaginar que um qualquer comentador desportivo de fim-de-semana, aspirante a Gabriel Alves, numa já desparecida Rádio Pirata local terá narrado assim a história daquele jogo:
“Rezam as crónicas, que naquele Domingo sufocante de 22 de Junho de 1986, 115 mil “hinchas” enchiam as bancadas do Estádio Azteca na Cidade do México para assistir ao jogo dos quartos-de-final entre a Argentina e a Inglaterra, jogo apimentado pela lembrança da Guerra das Malvinas entre os dois países, apenas quatro anos antes.
Até aquele jogo Maradona tinha feito apenas um golo na fase de grupos, o do empate, contra a Itália, vigente Campeã.
Depois de uma primeira parte demasiado nervosa e sem grande interesse, o génio de 25 anos, nascido no bairro pobre de Villa Fiorito em Buenos Aires, quatro minutos depois de ter usado a “mão de Deus” para bater o guarda-redes inglês Peter Shilton pela primeira vez, recebe um passe ainda antes do meio campo e após deixar para trás todos os jogadores ingleses que lhe saíram ao caminho (Hoddle, Reid, Sansom, Butcher e Fenwick) ainda tem forças para ludibriar Shilton e colocar a bola no fundo das redes. Estava feito o melhor golo da história dos Mundiais de Futebol e Maradona subia ao Olimpo dos Futebolistas.
De nada valeu o golo de Lineker perto do final do jogo. Já nada pararia a Argentina de Maradona rumo ao seu segundo título de Campeã do Mundo de Futebol.”

Terá sido assim, mas eu não sabia nada disso. Tinha nove anos e com essa idade dificilmente se aguentam 90 min., sentado, a ver um jogo de futebol.
Nem sequer me lembro da primeira vez que vi o golo, se terá sido em directo ou talvez depois no Telejornal (provavelmente à hora do jogo estava eu num desafio com as “caricas” da Coca-Cola). Muito provavelmente até foi a “preto e branco”, que em minha casa, nessa altura, ainda não havia a “moderna” TV a cores.
Aos olhos de um miúdo, ali estava aquele pequeno jogador de aspecto pouco atlético, com uma  camisola que à frente tinha um triângulo com um galo lá dentro (eram os anos de ouro da “Le Coq Sportif”) e um nº 10 que lhe ocupava as costas todas (e uns calções talvez demasiado justos e um cabelo talvez com demasiado volume, visto agora com esta distância!!)
Em conclusão, se me aparecesse lá no bairro, pela “pinta” não o escolhia para jogar na minha equipa!!!
Contra todas as minhas expectativas, o homem recebe a bola perto daquela sombra de uma espécie de estrela que aparece no meio do campo (ainda hoje, continuo sem saber o que é), num instante rodopia entre dois jogadores e já está no campo dos tais ingleses, continua ali pelo lado direito do relvado e incrivelmente a bola descola do pé esquerdo dele apenas o suficiente para fugir dos jogadores de branco e parece ir ter obedientemente com ele outra vez. Entra na área, não se vai safar……o guarda-redes está muito perto e parece bastante grande com os braços assim, todos abertos!!! Incrível, desviou um bocadinho a bola para a direita e o guarda-redes desapareceu da jogada, depois foi só encostar lá para dentro!!

Mas a jogada não acabou aí, Maradona marcou o golo e continuou a correr de braço no ar, e como só os Super-Heróis podem fazer, de repente já não estava no Estádio Azteca, nem no México, estava em todo o lado, quando parou de correr já tinha entrado em milhões de corações e permaneceria na memória de todos os que assistiram àquele momento.
Para um menino, lá muito longe, no interior de Portugal, não foi diferente. Com os olhos muito abertos, incrédulo, aprendera em menos de vinte segundos o que era essa coisa abstracta chamada ARTE.


A partir desse dia não houve dúvidas…..Eu Queria Ser o Maradona!








1 comentário:

  1. @Solez. Não percas a moral porque todo e qualquer adepto que seja adepto do Maradona é desde logo meu amigo!

    Felicidades para o blog!

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