sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Era uma vez...em Trás-os-Montes!

O rudimentar desenho, que fiz numa folha A4 rasgada ao meio, do Maradona vestido com a “alviceleste” a levantar bem alto uma taça amarela e com um balão de diálogo onde estava escrito “Somos Campeões do Mundo”, ali na parede por cima da minha cama com cola “Cisne”, não deixava dúvidas a ninguém de que o Mundial do México tinha terminado com final feliz para mim.
O problema, é que depois de terminada a Copa, saciar aquela “sede” toda de bola não parecia tarefa fácil.
Mas por esses dias os Deuses da bola estavam definitivamente do meu lado!
Um ano antes, sem que os meus oito anos tivessem dado grande importância ao assunto, ali mesmo ao fundo da rua, no Municipal de Chaves, tinha-se feito história no futebol português e uma equipa transmontana tinha chegado à então 1ª Divisão. Depois de uma vitória fora, 4-3, sobre o União da Madeira na última jornada da liguilha da época 84/85, o Desportivo subiu à 1ª, a caminho dos melhores anos da sua história.
Nessa época de estreia (85/86), os azul-grená, treinados por Raúl Águas, ganharam o rótulo de equipa-sensação ao terminarem em sexto lugar. O Municipal tinha-se transformado num fortim para as equipas adversárias e o ditado "Para lá do Marão mandam os que lá estão…" percorria o país e ganhava um novo sentido!
O Desportivo tinha-se transformado na maior bandeira da cidade e da região. O clube era a cidade e a cidade era o clube!
Poucos clubes terão representado em campo, de forma tão fiel, as características de uma região como o Grupo Desportivo de Chaves fez naqueles anos. A semelhança com os "Blaugrana" da Catalunha não era só no equipamento, também o nosso Desportivo era “mais que um clube”.


O nome da claque - Fúria Azul-Grená, diz bem o que os flavienses esperavam dos 11 que entravam no relvado em cada jogo! E nesses anos, para além da fúria, sobrava garra, determinação, espírito de sacrifício e o tal “amor à camisola” aos nossos jogadores.
O Grupo Desportivo de Chaves tinha-se transformado numa espécie de Robin do Bosques. Se a região era pobre e se sentia abandonada e esquecida pelos que mandavam, então nada melhor do que torturar equipas e seus adeptos, televisões, rádios e jornais e obrigá-los a viajarem ao “Reino Maravilhoso” de Miguel Torga e sentirem na pele os problemas da interioridade.
Depois era só roubar-lhes os dois pontos da vitória e mandá-los para casa de bolsos vazios!
Naqueles tempos, as camisolas azul-grená puseram a auto-estima e orgulho dos flavienses e de todos os transmontanos nos píncaros e criaram uma geração de “fanáticos” que, ao contrário do que acontecia no resto do País, tinham o Desportivo como primeira equipa e só depois um dos “grandes”. O inverso era uma heresia!
Se a primeira época tinha sido excelente, o que dizer da seguinte (86/87)!
Nesse verão de 1986 chegaria a Chaves um jogador que tinha estado presente no Mundial do México! (onde se tinha cruzado com Maradona e a sua Argentina na fase de grupos.)
Com a chegada do búlgaro Radoslav Zdravkov (que todos ficamos a conhecer por Radi) ao Desportivo eu ganhava mais um ídolo (mas essa é outra história!) e o Chaves ganhava a classe do camisola nº 7, a peça que faltava como complemento à “raça” já existente no plantel e que levariam à classificação para a Taça UEFA nesse ano, após o fabuloso 5º lugar no Campeonato, lugar que repetiria na época 89/90.

Durante esses anos, eu queria que fosse sempre Domingo à tarde para poder gritar nas bancadas do topo norte.....É de Chaves, É de Chaves!!

(foto:http://gloriasdopassado.blogspot.com/)



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